Os Protocolos dos Sábios de Sião são um dos embustes mais infames da história. Apresentados como um plano secreto para dominar o mundo, esses documentos foram amplamente divulgados no início do século XX, causando estragos consideráveis.

Alegadamente escritos no final do século XIX, os Protocolos foram apresentados como as atas de reuniões secretas de uma organização fictícia chamada “Os Sábios de Sião”. O objetivo proclamado era estabelecer uma hegemonia global sob o controle dos judeus. No entanto, a verdade é que os Protocolos são uma completa fabricação.

Trata-se de um texto antissemita que descreve um alegado projeto de conspiração por parte dos judeus e maçons de modo a atingirem a “dominação mundial através da destruição do mundo ocidental”. De acordo com o Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, o texto influenciou o nazismo e permanece em circulação até os dias atuais, sobretudo na internet.

Ilustração da página de capa da edição de 1911 do livro de Sergei Nilus intitulado “O Grande no Pequeno” que continha “Os Protocolos dos Sábios de Sião”. As legendas (entre símbolos ocultos e a versão de Eliphas Levi da carta “A Carruagem” do Tarô) dizem: “Assim venceremos”, “Marca do anticristo” (rotulando um pentagrama Tetragrammaton por Eliphas Levi), “Ilegalidade”, “Tarô”, “INRI”, “Grande mistério”. Impresso na tipografia da Lavra Troitse-Sergiyeva.

O jornal britânico The Times revelou em um artigo de 1921, escrito pelo jornalista Philip Graves, que o texto era uma falsificação que apresentava diversas passagens plagiadas de Diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu, obra satírica do escritor francês Maurice Joly.

O texto, futuramente, foi plagiado e usado como base para o documento Plano Cohen.

O texto tem o formato de uma ata, que supostamente teria sido redigida por uma pessoa num Congresso realizado a portas fechadas, numa assembleia em Basileia, no ano de 1898, onde um grupo de sábios judeus e maçons teriam-se reunido para estruturar um esquema de dominação mundial. Nesse evento, teriam sido formulados planos como os de usar uma nação europeia como exemplo para as demais que ousassem se interpor no caminho dessa dominação, controlar o ouro e as pedras preciosas, criar uma moeda amplamente aceita que estivesse sob seu controle, confundir os “não-escolhidos” com números econômicos e físicos e, principalmente, criar caos e pânico tamanhos que fossem capazes de fazer com que os países criassem uma organização supranacional capaz de interferir em países rebeldes.

Numerosas investigações repetidamente provaram tratar-se de um embuste, especialmente uma série de artigos do The Times of London, de 16 a 18 de agosto de 1921, que leva a crer que muito do material utilizado no texto era plágio de Serge Nilus ou Serguei Nilus de sátiras políticas existentes (principalmente do livro “O diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu”, do escritor Maurice Joly,

publicado em 1865), que não tematizavam a questão antissemita. Em 1920, Lucien Wolf publicara “The Jewish Bogey and the Forged Protocols of the Learned Elders of Zion” (London: Press Committee of the Jewish Board of Deputies.

Segundo estas investigações, a base da história dos Protocolos, como circula desde então, foi criada por um novelista alemão antissemita, chamado Hermann Goedsche que usou o pseudônimo de Sir John Retcliffe. A contribuição original de Goedsche consistiria na introdução dos judeus como os conspiradores para a conquista do mundo. O jornal The New York Times republicou os textos, a 4 de Setembro de 1921.

Os Protocolos foram publicados nos EUA no Dearborn Independent, um jornal de Michigan, cujo proprietário era Henry Ford, que ao mesmo tempo publicaria uma série de artigos coligidos mais tarde num livro intitulado O Judeu Internacional. Mesmo após as denúncias, por parte de toda a imprensa, de fraude, o jornal continuou a citar o documento. Adolf Hitler e seu Ministério da Propaganda citaram os Protocolos para justificar a necessidade do extermínio de judeus mais de 10 anos antes da Segunda Guerra Mundial. Segundo a retórica nazista, a “conquista do mundo pelos judeus”, descoberta pelos russos em 1897, estava obviamente sendo ainda levada a cabo 33 anos depois.

No Brasil, Gustavo Barroso, advogado, professor, político, contista, folclorista, cronista, ensaísta e romancista brasileiro, diretor do Museu Histórico Nacional, presidente da Academia Brasileira de Letras por duas vezes e membro do movimento nacionalista Ação Integralista Brasileira, publicou pela Editora Civilização Brasileira a primeira tradução em português.

Paulo Coelho, por sua vez, recorda que os Protocolos foram publicados simultaneamente na Inglaterra (Eyre & Spottiswoode Publishers) e na Alemanha (Verlag Charlottenburg), transcrevendo, de forma grosseira, determinadas ideias difundidas por Serge Nilus (ainda que o livro, em momento algum, pregue qualquer tipo de agressão física ou moral ao povo semita) (“O grande no pequeno e o Anti-Cristo como possiblidade imediata”. São Petesburgo, 1902).

O franciscano Maximiliano Kolbe, martirizado pelo nazis num campo de concentração, teve-o como um dos seu alvos principais por acreditar que era “o verdadeiro livro fundamental da Maçonaría”.

Em 1931, Anton Idovsky, um velho e desencantado monarquista, disse ter forjado os Protocolos, simplesmente porque um judeu, gerente de um banco, lhe havia recusado um empréstimo. Idovsky afirmou ter copiado as ideias centrais do livro de Joly. A história teria-se encerrado aí, caso, dois anos mais tarde, em 1933, Adolf Hitler não tivesse subido ao poder, na Alemanha, uma vez que foi esta obra que os nazistas utilizaram, perante o meio intelectual alemão, para justificar a postura antissemita então pretendida de ser adotada pelo Terceiro Reich alemão.

A utilização dos Protocolos por Hitler pode ser vista nesta tradução do Mein Kampf (1925-1926), capítulo XI, Nação e Raça: “… até que ponto toda a existência desse povo é baseada em uma mentira continuada incomparavelmente exposta nos Protocolos dos Sábios de Sião, tão infinitamente odiado pelos judeus. Eles são baseados num documento forjado, como clama o jornal Frankfurter Zeitung toda semana: é a melhor prova de que eles são autênticos. O que muitos judeus fazem inconscientemente, aqui é exposto de forma consciente. E é isso o que importa. É completamente indiferente de qual cérebro judeu essa revelação se originou; o importante é que, com uma certeza positiva e terrível, eles revelam a natureza do povo judeu e expõem seus contextos internos bem como seus objetivos finais. Todavia, a melhor crítica aplicada a eles é a realidade. Qualquer um que examine o desenvolvimento histórico dos últimos 100 anos, do ponto de vista deste livro, vai entender de uma vez os gritos da imprensa judaica. Agora que este livro se tornou uma propriedade do povo, a ameaça judaica é considerada como interrompida (pgs 307-309).

Will Eisner (1917-2005), filho de imigrantes judeus-americanos, conhecia desde pequeno a história do panfleto Protocolos dos sábios de Sião: “por bastante tempo o releguei à biblioteca da literatura perversa, ao lado do Mein Kampf (Minha luta, de Hitler)” escreveu na apresentação do seu livro, que também ilustrou, O complô (Companhia das Letras), sobre a história secreta dos Protocolos. Na introdução, o escritor e acadêmico italiano Umberto Eco se pergunta como tal livro resiste às provas de que é falso. E responde: “Não são os Protocolos que geram antissemitismo; é a profunda necessidade das pessoas de isolarem um inimigo, que as leva a acreditar nos Protocolos”.

Conforme demonstrou Philip Graves em seus artigos no The Times em 1921, os “Protocolos” 1 a 19 seguem, a mesma sequência e conteúdo muito semelhante à obra dos “Diálogos” de Maurice Joly, o que mostra um claro plágio ou senão uma segunda versão. Aqui se apresentam alguns exemplos:

Os Protocolos se propõem a documentar as minutas de uma reunião ocorrida ao final do século XIX por parte de Lideranças Judias Mundiais (“os Anciãos de Zion”), que supostamente conspiram para dominar o mundo. As informações atribuíam aos judeus uma variedade de planos, a maioria das quais originadas de antigas notícias sensacionalistas fabricadas. Como exemplo, os Protocolos incluíam planos para subverter os valores morais do mundo não-Judeu, planos dos banqueiros Judeus para controlar a economia mundial, dos Judeus em geral para controlar a imprensa, tudo isso visando a “Destruição da Civilização”.

Referências

  1.  ver origem de Sião (Jerusalém)
  2.  «Os Protocolos dos Sábios de Sião – United States Holocaust Memorial Museum (em português brasileiro)». USHMM.org. Consultado em 3 de março de 2016
  3.  José Delacruz«The Protocols of the Learned Elders of Zion – Plagiarism at its Best»University of California, Santa Barbara Department of History. Consultado em 24 de janeiro de 2014
  4.  Wiazovski, Taciana (2008). O mito do complô judaico-comunista no Brasil : gênese, difusão e desdobramentos (1907-1954). São Paulo, SP, Brasil: Humanitas. OCLC 449129799
  5.  Blay, Eva Alterman (junho de 1989). «INQUISIÇÃO, INQUISIÇÕES: Aspectos da participação dos judeus na vida sócio-política brasileira nos anos 30»Tempo Social (1): 105–130. ISSN 1809-4554doi:10.1590/ts.v1i1.83335. Consultado em 8 de maio de 2022
  6.  In 1921 Philip Graves Exposed the “Protocols of Zion” as a Phony por Jared Israel e Samantha Criscione
  7.  Que, por sua vez, possivelmente teve contato com o texto antissemita La Isla de los Monopantos, do espanhol Francisco de Quevedo. Vide PRAAG, J. A. van. Los Protocolos de los Sabios de Sión y la Isla de los Monopantos de Quevedo. in Bulletin Hispanique, ano 1949, volume 51, numero 51-2, p. 169-173.
  8.  The New York Times, 4 de setembro de 1921. Página frontal, Secção 7
  9.  COELHO, Paulo. Conspiração segundo Márcio Bontempo. São Paulo: Revista Planeta. Edição 236, Ano 20, N° 5, Maio 1992. p. 8.
  10.  San Maximiliano Kolbe sobre la judería y la masonería – (Revista Cabildo), Profecias y Revelaciones, 3 de Fevereiro de 2014
  11.  El Libro de Cabecera de San MaximilianoO Kolbe, Augusto Padilla, Catapulta, 28 de febrero de 2009
  12.  Entre Livros, nº15, 2006, Editora Duetto.


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